27.3.11

Cemitério de South Park Street

Durante a primeira metade do século XIX, os cemitérios românticos (vitorianos) espalharam-se por toda a Europa, desenhados por arquitectos conceituados que procuravam recriar os mitológicos espaços de Arcádia e Campos Elísios, concebendo belíssimos cemitérios-jardins.
Rapidamente, o cemitério parisiense de Père Lachaise (1803) foi tornado como modelo, sendo a sua planta distribuída, estudada e utilizada como base de trabalho numa série de cemitérios pela Europa fora; como foi o caso do nosso cemitério dos Prazeres (1833), por exemplo.

A verdade é que o "primeiro" cemitério vitoriano não apareceu na Europa, mas na Ásia: mais precisamente, na Índia.

Em 1690, a Companhia das Índias Orientais fundou a cidade de Calcutá. Nos anos que se seguiram, a afluência de europeus a esta zona da Índia foi aumentando, de acordo com os volumes de negócios. Alguns regressaram aos seus países de origem, mas outros foram ficando por lá.
Em 1767 foi fundado um cemitério para a inumação dos europeus que habitavam em Calcutá: o cemitério de South Park Street.
Fundado por motivos funcionais e de higiene, antecede toda a reforma cemiterial europeia.

Inspirados em monumentos funerários indianos, construções persas, egípcias e muçulmanas os monumentos que enchem este cemitérios não foram desenhados por arquitectos, mas construidos pelos próprios coveiros, segundo indicações dos proprietários.
Sãos construções de tijolo, rebocadas com estuque, pintadas e decoradas com colunas partidas, obeliscos, pirâmides.

Em 1830 o cemitério estava sobre-lotado e deixou de ser utilizado.

O material usado nas construções dos monumentos torna a conservação destes numa tarefa complicada, mais ainda se tivermos em consideração o clima húmido e quente dessa zona da Índia.

Sobre ele, escreveu Rudyard Kipling:

Lower Park Street cuts a great graveyard in two. (...)

The eye is ready to swear that it is as old as Herculaneum and Pompeii. The tombs are small houses. It is as though we walked down the streets of a town, so tall are they and so closely do they stand — a town shrivelled by fire, and scarred by frost and siege. Men must have been afraid of their friends rising up before the due time that they weighted them with such cruel mounds of masonry. Strong man, weak woman, or somebody’s ‘infant son aged fifteen months,’ for each the squat obelisk, the defaced classic temple, the cellaret of chunam, or the candlestick of brickwork — the heavy slab, the rust-eaten railings, whopper jawed cherubs, and the apoplectic angels.



22.3.11

Caixões Dançarinos

Estava-se no final do século XVIII e em Christ Church, nos Barbados, quando a abastada família de plantadores Wallrond mandou construir um mausoléu de família, escavado na rocha e fechado com uma maciça pedra de mármore.

Em 1807 foi a enterrar o primeiro e único elemento da família Wallrond a ser depositado no jazigo: Thomasina Goddard, fechada num simples caixão de madeira.
O jazigo foi vendido a outra família de plantadores, os Chase, no ano seguinte.
O Coronel Thomas Chase era o patriarca dessa família e, corriam rumores, era considerado um homem bastante cruel.

Nesse mesmo ano, a pequena Mary Ann, filha mais nova de Thomas Chase, com dois anos de idade, foi colocada no jazigo, num caixão de chumbo. Algumas fontes relatam que a morte de Mary Ann teve origem num ataque violento de seu pai e que Dorcas, a irmã mais velha de Mary Ann, se deixou morrer de fome - empurrada para uma depressão precoce, também por Thomas Chase - e em 1812 foi também depositada no jazigo, ao lado da irmã, num caixão de chumbo.
Como sempre, o jazigo foi fechado (sendo necessária a força de vários homens para colocar a pedra no sitio) e selado com cimento.

Ainda em 1812, Thomas Chase morreu. Foi feito um caixão trabalhado, pesando cerca de cem quilos, que teve de ser transportado por oito homens, e o jazigo de família mandado abrir para colocar o pai das meninas. O interior surpreendeu toda a gente: os caixões estavam fora do sitio, desarrumados, e os acompanhantes do funeral ficaram indignados com a perspectiva do jazigo ter sido atacado por ladrões de sepulturas. Rapidamente, a ausência de valores no interior do jazigo, o facto dos caixões não terem sido violados e da pedra da entrada se encontrar selada com cimento, fez com que a população pusesse de lado essa hipótese.

Em 1816 o túmulo foi de novo aberto: todos os caixões tinha sido movidos; os das duas meninas estavam voltados com a tampa para baixo e até o pesado caixão de Thomas Chase estava fora de sítio, encostado verticalmente numa das paredes da cripta.
Os caixões voltaram a ser colocados nos seus locais iniciais e a enorme pedra mármore descida sobre a entrada do túmulo.

Em menos de dois meses o túmulo voltou a ser aberto para nova inumação; reuniu-se uma multidão em torno do talhão da família Chase e a pedra e o cimento foram demoradamente examinados, em busca de sinais de arrombamento. Aberto o túmulo, a desordem reinava no seu interior. O caixão de madeira de Thomasina Goddard estava dramaticamente danificado.

Parecia impossível encontrar uma explicação: não havia sinais de inundação no interior da cripta, tremores de terra teriam afectado também os jazigos vizinhos (o que não tinha acontecido) e se a cripta tivesse sido aberta e violada teriam sido encontrados vestígios.

Mais uma vez, o jazigo foi arrumado e fechado.

Em 1819, ao ser novamente aberto, todos os caixões - com excepção do decrepito caixão de madeira de Goddard - tinha sido movidos.

Foi chamado um padre para investigar o túmulo e até Sir Arthur Conan Doyle abordou o assunto, dizendo que se tratavam de forças sobrenaturais que moviam as urnas por estas serem feitas de chumbo, o que impedia a natural decomposição dos corpos.

Os caixões foram, mais uma vez, arrumados nos seus devidos lugares e o Governador de Barbados, Lord Combermere mandou cobrir o chão do jazigo com areia fina e selar a pedra com cimento, onde gravou o seu selo pessoal.
Algum tempo depois foram-se relatadas histórias de ruídos estranhos, vindos do interior da cripta e em 1820 o Governador mandou abrir o túmulo para ver o que se passava no seu interior.

A pedra não tinha sido movida, pois os selos do Governador encontravam-se intactos, e a areia continuava lisa e intocada, mas os caixões estavam, mais uma vez, fora do sítio, alguns deles voltados ao contrário.

O Governador mandou esvaziar a cripta e enterrar os caixões noutro local.

A cripta ainda se encontra vazia e, até agora, ninguém conseguiu encontrar a solução para o mistérios dos caixões dançarinos da família Chase.


20.3.11

Monumentos Memoráveis: Via Crucis

Uma das peças mais vistosas e visitadas do Cemitério Monumentale de Milão, em Itália, é um trabalho de 1936, realizado por Giannino Castiglioni (Α:1884 - Ω:1971), talentoso discípulo de Butti (já aqui falado anteriormente a respeito de uma outra genial obra do Monumentale de Milão: La Giovane Morta).


Esta maravilhosa escultura é uma enorme torre em espiral, talhada em mármore branco, construida em parceria com o arquitecto Alessandro Minali e foi chamada de Via Crucis.

Castiglioni criou-a para Antonio Bernocchi (Α:1859 - Ω:1930), rico empresário da industria do de algodão e patrono das artes, responsável pela realização da Trienal de Arquitectura de Milão, tendo deixado em testamento fundos para a construção do palácio que a devia receber.

Representando as doze estações da Via Sacra, esta enorme escultura, foi uma das principais obras que ajudaram a imortalizar o trabalho do talentoso escultor.

Ainda no Monumentale de Milão podem ser encontradas mais duas peça do mesmo autor e que também são dignas de nota; mantendo um registo de inspiração cristã, Castiglioni concebeu um mármore representando o Inferno, Purgatório e Paraíso para o mausoléu de Andrea Bernocchi (irmão do já referido Antonio Bernocchi) e um magnifico bronze da Última Ceia para o jazigo de Davide Campari (o magnata das bebidas alcoólicas) que é um dos pontos de maior interesse no Monumentale.

Numa época em que as peças realizadas para os cemitérios serviam de mostruário dos talentos dos seus autores, foi graças a este bronze que o escultor Giannino Castiglioni foi escolhido para fazer o segundo conjunto de portas de bronze da Catedral de Milão.


17.3.11

Eternos Parisienses

Para a maioria dos tafófilos, a caça às campas de famosos não é o principal atractivo num cemitério, mas para o visitante comum - que, ao contrário dos primeiros, não nutre um especial carinho por estes espaços - encontrar -se o local do repouso eterno de um nome sonante é, sem dúvida, um dos principais atractivos para cruzar os portões dos cemitérios.

Ainda que em Portugal este tipo de turismo não seja ainda comum, lá fora é extremamente popular e a prova disso são, por exemplo, as multidões que visitam o cemitério parisiense de Père Lachaise ou os autocarros de turismo que param diariamente à porta do cemitério Monumentale de Milão para visitas guiadas.

Normalmente, no próprio local, é possível comprar (ou receber gratuitamente) brochuras com as plantas dos cemitérios, onde os jazigos dos mais famosos residentes se encontram destacados, e que permitem ao visitante não se perder e descobrir com maior facilidade a campa pretendida. No entanto, este tipo de brochuras não costuma ter muito mais informação para além da localização e do nome e, muitas vezes, sentimos vontade de saber mais.
Outras vezes, queremos planear a viagem cuidadosamente e escolher quais os espaços a visitar, e as campas a não perder, e antes de ir não temos acesso às brochuras.
Felizmente, a Internet já nos permite a consultas de sites dedicados a alguns dos cemitérios, com acesso às plantas e outra informação preciosa; ainda assim, nada como ter um guia de bolso, completo e detalhado, contando histórias interessantes; não só sobre os falecidos, mas também sobre as suas campas, monumentos e o cemitério em si.

No âmbito dos Guias Cemiteriais existe uma colecção que merece destaque: a The Permanent Series desenvolvida por Judi Culbertson e Tom Randall.

Até ao momento existem já 5 volumes:
Vamos começar por Permanent Parisians.
Os autores dedicam os quatro capítulos iniciais a Père Lachaise, o que não é surpreendente, se considerarmos a profusão de falecidos famosos que estão enterrado neste cemitério.

Recordamos alguns:
  • Jim Morrison;
  • Georges Rodenbach;
  • Frédéric Chopin;
  • François Raspail;
  • Gustave Doré;
  • Jean La Fontaine;
  • Allan Kardec;
  • Honoré de Balzac;
  • Eugène Dlacroix;
  • Oscar Wilde;
  • Edith Piaf;
  • etc.
Há ainda tempo para falar nos afamados Passy, Montparnasse e Montmartre, para dedicar um capítulo ao Panteão, outro (pequeno) às Catacumbas, sem esquecer pequenos cemitérios suburbanos e igrejas onde foram realizadas inumações diversas, como St. Denis.

O guia está ilustrados com fotografias a preto e branco que permitem visualizar os locais a visitar.

Este é o guia essencial para qualquer tafófilo de visita a Paris, mas mais que isso é um instrumento rico, com um manancial de informação incontornável, sobre as personalidades enterradas em Paris e as suas histórias de vida, mas em especial, as suas mortes.

Mesmo para quem não esteja a planear um visita à cidade da Luz, vale a pena adquirir e ler esta obra.


15.3.11

Guilda dos Violinistas Funerários

No ano de 2007 foi publicado um interessante livro chamado An Incomplete History of the Art of Funerary Violin, que causou sensação sob diversos aspectos.

O autor - e músico - Rohan Kriwaczek diz na introdução que ao sair da Royal Academy of Music, nos anos setenta do século passado, percebeu que única forma de distinguir-se como executante de violino clássico era encontrar um nicho e especializar-se nele.
Considerando o seu gosto pessoal, decidiu especializar-se em música melancólica e começou a percorrer a Inglaterra com um espectáculo musical que denominou de "a música mais triste do mundo".

No final de um desses espectáculos foi abordado por um académico que se apresentou como membro da quase extinta Guilda dos Violinistas Funerários, convidando-o a assistir a uma das suas reuniões.

Rohan Kriwaczek conta-nos o seu entusiasmo ao descobrir que o grupo de homens de idade avançada que compunha a guilda, nessa altura, mantinha um espólio de pautas, velhas gravações em cilindros de cera, fotografias e documentos históricos provando a existência de um género de música quase esquecido: o violino funerário.

O autor revela ainda que, depois de obtida permissão, ficou recolhido na cave-arquivo da guilda, procurando, organizando, recuperando e tratando esses documentos e gravações.

Foi assim que Rohan Kriwaczek ficou a conhecer a história da Guilda e da Arte do Violino Funerário, um género de musica misto de erudita e popular normalmente tocada por um violinista em funerais (ou dois, em casos especiais).

Criada na época da Reforma Protestante da rainha Elizabeth, e praticamente extinta durante a Primeira Guerra Mundial, o Violino Funerário teve de passar por longas fases de clandestinidade, nomeadamente durante as chamadas purgas funerárias levadas a cabo pelo Vaticano, que considerava que este tipo de música era do Diabo.

Apesar disso, a música influenciou grandemente compositores afamados como Chopin e Mozart, estando na génese dos requiens e marchas fúnebres que muitos compositores criaram ao longo dos anos.

O livro é uma obra riquíssima, ilustrada com fotografias de época, e tem como anexo a cópia das pautas de algumas das músicas.
É ainda possível comprar os CD's contendo as performances gravadas nos cilindros de cera encontrados nas caves da casa da guilda ou versões recentes gravadas por Rohan Kriwaczek que, entretanto, também compôs alguns trabalhos, seguindo o espírito do trabalho dos seus antecessores, os violinistas funerários que foram passando pela guilda.





Talvez um dos pontos mais interessantes de toda esta história é o facto dela ser falsa.

Rohan Kriwaczek criou a Guilda, a sua história, a sua filosofia, a música, as imagens, tudo. E sim, a guilda nunca existiu antes, mas existe agora.

A historia da guilda é falsa... mas está tão bem construida que podia não ser!
E a música é real!
E bonita...

13.3.11

Simbologia: Urna Cinerária

Para além dos símbolos que são apropriados pela arte funerária e aos quais é assim acrescentada uma nova camada, de acordo com a interpretação desse símbolo nesse contexto, existe ainda um conjunto de símbolos associados à Morte e que são, obviamente, utilizados em grande número nos cemitérios.

Um dos clássicos e mais comuns símbolos de Morte é a urna, podendo apresentar três representações distintas: a urna comum (que serve de ossário), a urna lacrimal e a urna cinerária.

Juntamente com a cruz, a urna cinerária é uma das mais comuns representações nos cemitérios românticos (vitorianos), tendo sido amplamente usada no século XIX.

Objecto que na Grécia antiga tinha o objectivo de guardar as cinzas resultantes de um processo de cremação, a urna cinerária tornou-se uma representação da separação entre o corpo e a alma, sendo muita vezes acompanhada de um véu ou mortalha que a cobre parcialmente.
O véu, neste contexto, é vária vezes apresentado como sendo a separação entre o mundo do vivos e o reino dos mortos ou, de uma forma ainda mais simples, a urna contendo os restos mortais e a mortalha abandonada, representam a passagem da alma para outra dimensão, a sua separação definitiva do mundo físico.

Há fontes que mencionam a urna como uma representação, não da componente física, mas da mais etérea: da alma. Considerando que a urna é o objecto que contém os últimos vestígios físicos do falecido, parece-me que a única forma dela representar a alma é pela ausência.

A urna é encontrada com frequência coberta por um véu ou mortalha, como já foi mencionado, mas também acompanhada de uma mulher ou um anjo, frequentemente dobrados e apoiados tristemente no objecto.
Podem encontrar-se outras variações como as chamas saindo do seu interior ou coroas de flores.

Assim, a urna representa a mortalidade, a alma, a separação entre o reino dos vivos e o reino dos mortos, os últimos despojos da vida.

12.3.11

Memento Mori

Sem as facilidades que temos hoje em dia para preservar imagens, os vitorianos encontraram na invenção do daguerreótipo, em 1839, uma nova forma, mais rápida e eficaz que a pintura, que lhes permitia guardar para sempre recordações dos seus familiares e amigos.

Apesar de ser um processo caro, era bem mais acessível que posar para um quadro, mas faziam-se apenas em ocasiões especiais e que se pretendiam recordar.
Assim, iam-se adiando as fotografias.

É ainda de considerar que a mortalidade infantil era, na época, elevadíssima, pelo que muitas vezes quando uma criança morria, os pais não haviam tido ainda oportunidade para se fotografarem com ela e esta era a sua ultima oportunidade para guardarem uma recordação.

Não é de estranhar que se tenha começado a fotografar os mortos, numa sociedade que, como já vimos, tinha uma relação com a Morte bem diferente daquela que nós temos hoje.

Claro que não encontramos apenas fotografias post mortem de crianças, até porque o processo e o costume se popularizaram.

Era até comum os familiares vivos posarem junto do cadáver sendo que, por vezes, o resultado era especialmente macabro - para a nossa sensibilidade do século XXI - uma vez que apenas o morto se encontrava perfeitamente focado, pois as longas exposições próprias dos primórdios da fotografia obrigavam a uma imobilidade quase total para garantir a nitidez.

As imagens que chegam até nós (e que são também objectos de colecção muito cobiçados) dividem-se em dois grandes grupos: as que tentam disfarçar a Morte e as que a assumem.

No primeiro caso, os cadáveres eram normalmente colocados em posições naturais, como se estivessem vivos, recostados em cadeirões, deitados em camas, numa aparência de sono, num simulacro de vida. Alguns fotógrafos tinham mesmo suportes, que permitiam colocar os mortos em pé, e abriam-lhes os olhos - ou pintavam olhos nas pálpebras fechadas, directamente sobre a fotografia - aproximando-os o mais possível da imagem que tinham em vida.

Este tipo de fotografia post mortem pertence ao inicio do hábito de fotografar os mortos: mais do que recordar a Morte ou a mortalidade, pretendia-se recordar a pessoa em vida e a sua importância para os que ficavam.

A evolução natural da prática levou a que as imagens se assumissem enquanto fotografia de morte: passam a ser incluidos os caixões, as coroas de flores, velas, crucifixos e outros símbolos associados à Morte.

No inicio do século XX esta prática ainda era relativamente comum, sendo que actualmente ainda é possível observá-la na Europa de Leste.

Estas imagens acabaram por ficar conhecidas como Memento Mori, que é uma expressão latina que significa "recorda-te que vais morrer".


Podem ainda consultar a Galeria de Imagens da Página de Facebook do Mort Safe, onde vão encontrar mais fotografias post mortem do século XIX.

11.3.11

Cemitério de Mount Jerome

No ano de 1836, na margem sul do Grande Canal de Dublin, na Irlanda, foi inaugurado o primeiro cemitério privado do país: o General Cemetery Company of Dublin, que ficou conhecido e ainda hoje é designado por Harold's Cross ou Mount Jerome, o nome do local onde foi edificado.

Quatro anos antes, em 1832, abriu o cemitério de Glasnevin, na zona norte da cidade, que rapidamente se tornou no cemitério preferido pelos irlandeses católicos, transformando o mais recente cemitério de Mount Jerome no cemitério da população protestante.
Apenas em 1920 começaram a ser enterrados católicos em Mount Jerome, devido a uma greve dos coveiros de Glasnevin, que mantiveram esse cemitério inoperante durante algum tempo.

Mount Jerome cemetery

A primeira inumação em Mount Jerome foi de duas crianças, meninos gémeos, numa altura em que o cemitério cobria apenas vinte e seis acres de terra.
No centro do terreno fica uma belíssima capela gótica, desenhada por William Atkins e que foi construida em 1847, que ainda pode ser visitada.
Em 1874 foi necessário expandir o cemitério, tendo sido possível aumentar a área total para quarenta e oito acres, o seu tamanho actual.

Mount Jerome é actualmente considerado como um dos cemitérios românticos (vitorianos) de referência, sendo favoravelmente comparado com Highgate (Londres, Inglaterra) e Père Lachaise (Paris, França); no entanto, no final do século XX, o abandono a que este foi sujeito permitiu o declínio do espaço e a degradação dos monumentos e construções.

No virar do milénio é construido em Mount Jerome o primeiro crematório privado da Irlanda, permitindo a revitalização do espaço e o inicio de um longo e complexo processo de recuperação dos mausoléus, túmulos, criptas e estatuária.

É em Mount Jerome que se encontra enterrado Sheridan Le Fanu, o autor de Carmila - um dos primeiros romances de vampiros, ainda hoje extremamente inovador e audaz - e The House by the Churchyard.

Um visita a Mount Jerome é obrigatória para qualquer tafófilo de passagem por Dublin, sendo até possível encontrar um pequeno café no interior do cemitério.
Um alerta deixado por todos os guias é o cuidado necessário nestas visitas: a decadência a que chegou o cemitério criou buracos no chão, pedras tumulares partidas, construções quebradiças e mausoléus prontos a desabar...
A saída do recinto, no entanto, tem de ser impreterivelmente até às quatro da tarde, sendo que os portões do cemitério são fechados a essa hora, sem qualquer falha, não ficando sequer um guarda que possa facilitar a saída dos mais distraídos.

Chamam-lhe "victorian splendor in decay".


10.3.11

Joalharia de Luto

Como tem sido referido neste blog, a sociedade do século XIX tinha uma abordagem diferente relativamente à Morte.

As mortes aconteciam - normalmente - em casa e era de casa que saía o funeral. Os cangalheiros ajudavam os parentes do morto a conceber uma cerimónia de acordo com o estatuto social do falecido, sendo que algumas famílias acabavam ruinosamente endividadas.

O período de luto era longo e as regras e exigências da sociedade eram rigorosas. O luto tinha de ser respeitado em todas as coisas, o que permitiu uma linha de negócio bastante proveitosa e especializada em artigos dedicados ao luto.

Os Mourning Warehouses vendiam tudo aquilo que seria necessário a uma família enlutada: material de escritório para fins particulares (papel, cartões, envelopes, tinta, lacre e até canetas) e para fins comerciais (facturas, recibos, talões de encomenda), vestidos, braçadeiras, joalharia e acessórios de luto.

Também aqui o papel das mulheres era bem diferente do dos homens - e bem mais rígido. Nada podia ser usado por uma mulher enlutada que não fosse rigorosamente de luto: das luvas aos leques, passando pelos chapéus, pelos lenços, pelas bolsinhas, pelos vestidos e claro, pela joalharia.

Na raiz das roupas e adereços de luto criados no século XIX estava o pavor do regresso das almas dos mortos ao mundo dos vivos: ainda se estava numa altura em que o espiritismo vicejava e era considerado uma realidade.
Acreditava-se que os trajes de luto serviam para tornar os vivos invisíveis aos olhos dos mortos, nomeadamente quando estes estavam envoltos em capas e véus negros, e as inumações decorriam à noite.
O facto do preto ser uma cor associada com a noite e vista como a ausência da cor era a que mais se adequava à representação do luto.

A pressão da sociedade em torno das famílias enlutadas era tal, que qualquer alteração das regras significava, no mínimo, desrespeito pelo falecido. Noivas chegaram a casar de preto, por não lhes ser permitido levantar o luto por nenhum motivo.

Numa época em que não existiam muitas formas de guardar recordações dos entes queridos que faleciam, a sociedade vitoriana desenvolveu duas técnicas: a fotografia post mortem e a joalharia com cabelos.

A joalharia com cabelos era normalmente feita com recurso a madeixas dos falecidos, que eram entrançadas ou tecidas como se fossem fio de linho ou algodão, permitindo criar padrões que eram integrados em pregadeiras, anéis, pulseiras, travessões de prata ou ouro.
Mais simples eram as madeixas de cabelo simples, enroladas e fechadas em medalhões.

O esmalte preto - ou branco, quando o morto era uma criança - era uma das matérias primas mais utilizadas na joalharia de luto, assim como as pérolas arroz, cujo formato e tamanho permitia imolar lágrimas ou seja, eram utilizadas para simbolizava o pesar da perda do familiar.
As opalas, que os vitorianos acreditavam trazer má sorte, eram também utilizadas neste contexto, à semelhante das pérolas, para simbolizar dor.

Era comum ter símbolos de Morte, pintados em marfim ou esmalte, encastrados em anéis ou medalhões para usar ao peito. Urnas funerárias envoltas em mortalhas, salgueiros, tochas invertidas e pedras tumulares eram os símbolos mais comuns.
Por vezes também era possível mandar pintar uma silhueta ou retrato do falecido.

Em Whitby desenvolveu-se uma industria baseada na concepção de joalharia em âmbar-negro e prata que ficou famosa por toda a Inglaterra e as peças era muito procuradas como jóias de luto.

Findo o período de luto, que dependia da relação com o falecido, as jóias eram guardadas como recordações.

Estas peças são hoje alvo de colecção por muitos interessados.


Para quem quiser saber mais sobre este assunto, recomendo o site Art of Mourning.

Podem ainda consultar a Galeria de Imagens da Página de Facebook do Mort Safe, onde vão encontrar mais imagens de jóias de luto.


9.3.11

Estilhaçamento

Em Cemitérios, Jazigos e Sepulturas, Vítor Manuel Lopes Dias, baseado no trabalho de Leite de Vasconcelos, lista as diferentes modalidades de eliminação de um cadáver utilizadas por diferentes culturas.

Segundo o autor, esses métodos são:
  • Abandono;
  • Imersão na Água;
  • Exposição em Plataforma;
  • Inumação ou Enterramento;
  • Queima;
  • Mumificação;
  • Escarnificação;
  • Canibalismo;
Na Suiça foi recentemente desenvolvido um novo método, o mais verde de todos: o estilhaçamento*.

A proposta podia ter sido inspirada numa das cenas finais do filme Exterminador Implacável: O Dia do Julgamento, onde T-1000 (interpretado por Robert Patrick) é destruído temporariamente com recurso ao congelamento por nitrogénio liquido e, com um tiro, acaba estilhaçado sobre o asfalto.

A proposta da empresa suíça Promessa é essa mesmo: congelar os cadáveres em nitrogénio liquido e estilhaçá-los em seguida.

O impacto ambiental dos métodos tradicionais de eliminação de cadáveres é enorme, seja por inumação ou cremação, mas esta nova técnica permite praticamente anular esse impacto.

O método é complexo e composto por diversas etapas:
  • O corpo é arrefecido até aos -18º e posteriormente mergulhado em nitrogénio liquido, que o torna quebradiço.
  • Recorrendo a ondas sonoras, o corpo é estilhaçado, transformando-se em pó.
  • Seguidamente, o pó é colocado numa câmara de vácuo que faz com que a água se evapore imediatamente (cerca de 70% do nosso corpo é água).
  • O resultado da operação anterior é matéria orgânica, peças metálicas (pacemakers, chumbos dos dentes, parafusos médicos, etc.) e mercúrio.
  • O metal é separado da matéria orgânica através de um separador de metais e, se necessário, o pó pode ainda ser desinfectado.
A proposta da Promessa passa pela utilização de um caixão de amido de milho que deve ser enterrado num local adequado e permitirá que o corpo se transforme em composto num curto período que pode ir de seis a doze meses.
Existe ainda uma explicação ilustrada na página da Promessa.

Será curioso, daqui a algum tempo, perceber a aderência que este novo método terá.


*Uma vez que não existe ainda uma expressão em português para este método, decidi traduzir desta forma.

8.3.11

Livros: The Victorian Undertaker

Durante a época vitoriana, a Morte ocupou um lugar de destaque na sociedade.

Por esse motivo, todas as ocupações e necessidades que lhe estavam associadas ganharam também espaço e importância.

Existia toda a uma cultura em volta do luto, criando objectos personalizados para os períodos que se seguiam à morte de um ente querido e que ia desde os vestidos de senhora, negros e carregados de crepe, até às jóias de prata e ónix ou âmbar-negro - por vezes contendo madeixas de cabelo do falecido -, cartões de visita, material para as cartas e outras comunicações, etc.
Nos jornais da época encontravam-se inúmeros anúncios a armazéns especializados em Luto (os famosos "Mourning Warehouses") e a serviços funerários e aluguer de carretas.

Considerando todas estas questões, o cangalheiro era uma figura reputada e responsável por um dos momentos mais importantes nas famílias, e consequente vida social, dos vitorianos.

Com The Victorian Undertaker, de Trevor May, a colecção Shire Books traz-nos, mais uma vez, um pequeno volume muito bem conseguido, curto, sucinto, mas com algumas ilustrações e percorrendo as ideias principais que pode ser mais um bom livro de iniciação a esta temática e preparação para leitura de obras mais completas, como The Victorian Celebration of Death de James Stevens Curl.

Dividido em seis capítulos, onde se aborda a tipologia de funerais com tudo o que lhe está associado, as carretas funerárias, a joalharia, cartões, postais, publicidade e também os funerais de estado; esta obra de rápida leitura - e preço acessível! - é essencial para os tafófilos principiantes.

4.3.11

Arte: Le Jour Des Morts

Se considerarmos a importância da Morte na vida da sociedade Vitoriana, não é surpreendente percebermos que, também na pintura, ela foi tratada e representada inúmeras vezes, por diferentes autores, que a abordaram de vários ângulos.

É também graças a estes trabalhos que podemos perceber e visualizar muitos dos hábitos e ritos fúnebres ou perceber a evolução do luto ou das carretas funerárias ao longo do tempo.

Corria o ano de 1859 quando o aclamado pintor francês William-Adolphe Bouguereau (Α:1825 – Ω:1905) apresentou o seu trabalho Le Jour Des Morts.


Apesar de Bouguereau ser muito popular na altura, hoje em dia perde em popularidade para os seus conterrâneos e contemporâneos impressionistas.
Para quem não conhece - ou não sabe que conhece, uma vez que algumas das suas obras aparecem recorrentemente, por exemplo, em capas de livros - recomenda-se a descoberta deste excelente artista.

Esta magnifica peça, representando o que pode ser interpretado como uma visita ao cemitério em dia de Finados por duas mulheres - talvez Mãe e Filha - à campa de um recém falecido ente querido - talvez o Pai, se consideramos o véu de viúva envergado pela mulher mais velha - pode ser vista no Museu de Belas Artes de Bordéus, em França.


3.3.11

Caixões Sofá

Os Tafófilos da Califórnia levam o seu gosto pela parafernália fúnebre aos extremos.

Numa perspectiva de responder às necessidades e preferências de um nicho de mercado que tem vindo a crescer ao longo do tempo, a 1-800-Autopsy desenvolveu uma nova linha de negócio, suportada na empresa Coffin Couches, que cria elegantes sofás de sala a partir de caixões.

Estes sofás, independentemente da cor de tinta seleccionada, são sempre verdes, uma vez que se tratam de produtos reciclados.
Sim, é isso: caixões reciclados.

Segundo o site do fabricante, os caixões usados para o fabrico dos sofás são:
(...)collected from local funeral homes primarily in Southern California.
It is a health and safety law that funeral homes cannot resell used coffins to the general public.
We approached funeral directors with the attitude of recycling.
These coffins are not used for burial due to slight cosmetic inconsistencies.
As imagens da galeria mostram uma selecção brilhante e muito bem conseguida. Verdadeiras peças de coleccionador.



O preço de um caixão-sofá simples ronda os $3.500, sem portes de envio, possíveis custos de alfândega, etc.
Não é, decididamente, um objecto barato.

A título de curiosidade, os fabricantes informam que Kat Von D, a tatuadora do programa LA Ink e que anteriormente aparecia em Miami Ink, tem um.


Uma deliciosa peça de mobiliário. Elegante e extravagante!


2.3.11

Mausoléus

Uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo era o Mausoléu de Halicarnasso, uma construção funerária gigantesca, projectada por Pítio, que servia de tumba ao rei Mausolo da Caria, que viveu durante o século IV a.C.
Dessa Maravilha do Mundo Antigo restam apenas alguns vestígios na cidade turca de Bodrum, mas o nome e o conceito resistem e são reconhecidos por todos.

Um mausoléu pode ser definido como uma construção fúnebre, independente, contendo uma ou várias tumbas onde se pode, pelo menos em teoria, entrar.

Relativamente popular durante a ocupação romana, a construção de mausoléus tornou-se rara nos séculos que se seguiram, considerando as práticas funerárias promovidas pelas religião católica.

É a ruptura com as inumações no interior das igrejas que impulsiona o regresso destas construções. O regresso da construção de mausoléus dá-se também com o estabelecimento de colónias de europeus fora da Europa e a influencia que as construções e costumes locais tiveram sobre estas. Na Índia é possivel encontrar mausoléus construidos por comerciantes europeus desde 1659.
Um dos casos mais claros dessa influencia é o cemitério de South Park Street, em Calcutá, modelo inicial para os grandes cemitérios românticos (vitorianos) europeus como Père Lachaise.

A moda dos cemitérios românticos, que se espalhou pela Europa durante o final do século XVIII e os primeiros anos do século XIX, transformou o desenho e construção de mausoléus numa actividade arquitectural comum. É interessante perceber entre 1768 e 1820 (cronologia) a Royal Academy, em Inglaterra, recebeu cento e sessenta e quatro projectos de mausoléus, dos quais foram efectivamente construidos setenta.
Nas famílias mais abastadas, era natural que o arquitecto seleccionado para fazer construções nas propriedades da família fosse chamado também a desenhar o respectivo mausoléu.

A época vitoriana permite uma diversidade de estilos realmente rica; podemos encontrar monumentos de estilo Tudor ao lado de outros de estilos Grego, Gótico e Egípcio - que se tornou especialmente popular nessa altura devido à sua associação às pirâmides enquanto monumento fúnebre e, indirectamente, à simbologia maçónica, também muito comum na representação funerária vitoriana.

Apesar disso, é por volta dos anos 60 de 1800 que a construção de mausoléus atinge o seu pico, em número e tamanho. É nesta fase que grandes nomes da arquitectura do século XIX ficam associados à construção de monumentos funerários, trazendo floreados estilísticos como cantaria policromática e estilos e materiais eclécticos.

Com a chegada do século XX, na Europa, a afirmação de riqueza por recurso à construção de monumentos funerários sai de moda, ao mesmo tempo que a tendência para a cremação aumenta. Ainda assim, alguns mausoléus são adaptados, criando-se nichos para urnas de cinzas funerárias.

Nos Estados Unidos, a construção de mausoléus não sofreu este abandono, sendo ainda bastante popular. Em alguns países, como o México, o plástico colorido faz agora parte das construções funerárias, criando mausoléus extravagantes.
Neste momento, existem já mausoléus virtuais pela Internet, onde é possível imortalizar uma pessoa através de uma placa.

Estas ricas e diversificadas construções do passado - não muito distante - estão disponíveis para serem apreciadas e visitadas, permitindo-nos perceber a forma artística e tentativamente duradoura com que os nossos antepassados procuravam celebrar a morte dos seus entes queridos.


Imagens:
central - Cemitério Monumentale, Milão, Itália @Gisela Monteiro . 2010;
e
squerda - Cemitério Monumentale, Milão, Itália @Gisela Monteiro . 2010;
direita - Cemitério Père Lachaise, Paris, França @ Gisela Monteiro . 2009;

1.3.11

Simbologia: Mocho

O mocho é um animal com uma representação simbólica ambígua, certamente por ser uma ave nocturna.
Na arte funerária, os mochos simbolizam normalmente sabedoria, vigilância, solidão contemplativa e percepção.

Numa vertente mais luminosa, o mocho, apesar de não ser mencionado especificamente no Novo Testamento, tornou-se num atributo de Cristo e, muitas vezes, as representações da crucificação apresentam um mocho, numa referencia à capacidade de Cristo para guiar as almas que se encontram nas Trevas.

No evangelho de S. Lucas (1:79), Cristo é descrito como sendo capaz de: «iluminar aqueles que se encontram nas Trevas e na sombra da Morte, e guiar os nossos passos no caminho da Paz», propriedades atribuídas também aos mochos, especialmente num contexto funerário, uma vez que este é muitas vezes considerado um guia .

No entanto, no mocho simboliza também uma vertente mais sombria, em que representa o Príncipe das Trevas - Satanás - uma vez que se diz que o mocho teme a luz, vivendo e escondendo-se na escuridão. Tal como Satanás, o mocho é ainda encarado como um trapaceiro: Satanás engana a humanidade e o mocho engana outros animais.

Historicamente, é importante recordar que durante a Idade Média, o mocho foi associado à bruxaria e feitiçaria, sendo considerado um dos animais predilectos para serem adoptados como familiares das bruxas. É ainda encarado como um símbolo da clarividência e ocultismo.

Em muito do folclore europeu, o mocho apresenta-se como arauto da Morte, um portador de más notícias.

Apesar do mocho ter uma vertente luminosa no Novo Testamento, e de estar associado ao Filho de Deus, no Antigo Testamento, no Levítico (11: 13-17), é dito que «Eis aqui de entre as aves, as que vós repelireis: não comereis, porque são abomináveis (...) o mocho (...) e o bufo.»

O mocho é ainda o animal que acompanha a deusa grega Palas Atena, partilhando das suas características de sabedoria e astucia.

Na China e no Japão é considerado um mau agouro e um espírito malévolo.