12.3.11

Memento Mori

Sem as facilidades que temos hoje em dia para preservar imagens, os vitorianos encontraram na invenção do daguerreótipo, em 1839, uma nova forma, mais rápida e eficaz que a pintura, que lhes permitia guardar para sempre recordações dos seus familiares e amigos.

Apesar de ser um processo caro, era bem mais acessível que posar para um quadro, mas faziam-se apenas em ocasiões especiais e que se pretendiam recordar.
Assim, iam-se adiando as fotografias.

É ainda de considerar que a mortalidade infantil era, na época, elevadíssima, pelo que muitas vezes quando uma criança morria, os pais não haviam tido ainda oportunidade para se fotografarem com ela e esta era a sua ultima oportunidade para guardarem uma recordação.

Não é de estranhar que se tenha começado a fotografar os mortos, numa sociedade que, como já vimos, tinha uma relação com a Morte bem diferente daquela que nós temos hoje.

Claro que não encontramos apenas fotografias post mortem de crianças, até porque o processo e o costume se popularizaram.

Era até comum os familiares vivos posarem junto do cadáver sendo que, por vezes, o resultado era especialmente macabro - para a nossa sensibilidade do século XXI - uma vez que apenas o morto se encontrava perfeitamente focado, pois as longas exposições próprias dos primórdios da fotografia obrigavam a uma imobilidade quase total para garantir a nitidez.

As imagens que chegam até nós (e que são também objectos de colecção muito cobiçados) dividem-se em dois grandes grupos: as que tentam disfarçar a Morte e as que a assumem.

No primeiro caso, os cadáveres eram normalmente colocados em posições naturais, como se estivessem vivos, recostados em cadeirões, deitados em camas, numa aparência de sono, num simulacro de vida. Alguns fotógrafos tinham mesmo suportes, que permitiam colocar os mortos em pé, e abriam-lhes os olhos - ou pintavam olhos nas pálpebras fechadas, directamente sobre a fotografia - aproximando-os o mais possível da imagem que tinham em vida.

Este tipo de fotografia post mortem pertence ao inicio do hábito de fotografar os mortos: mais do que recordar a Morte ou a mortalidade, pretendia-se recordar a pessoa em vida e a sua importância para os que ficavam.

A evolução natural da prática levou a que as imagens se assumissem enquanto fotografia de morte: passam a ser incluidos os caixões, as coroas de flores, velas, crucifixos e outros símbolos associados à Morte.

No inicio do século XX esta prática ainda era relativamente comum, sendo que actualmente ainda é possível observá-la na Europa de Leste.

Estas imagens acabaram por ficar conhecidas como Memento Mori, que é uma expressão latina que significa "recorda-te que vais morrer".


Podem ainda consultar a Galeria de Imagens da Página de Facebook do Mort Safe, onde vão encontrar mais fotografias post mortem do século XIX.

2 comentários: