5.9.12

Simbologia: Alfa e Ómega

Encontrar letras soltas e acrónimos nos cemitérios é bastante comum. 
Desde o tradicional PNAV - que significa "Padre Nosso Ave Maria" e que pretende ser um pedido, a quem passa pela lápide, para rezar um Padre Nosso e uma Ave Maria pela alma do defunto - até ao INRI - do latim Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum ou seja "Jesus de Nazaré Rei dos Judeus" - e passando claro, pelas letras gregas Α (alfa) e Ω (ómega).

O mais óbvio, válido para qualquer contexto, é o facto destes símbolos representarem a primeira e última letras do alfabeto grego e por isso serem continuamente associadas ao princípio (alfa) e ao fim (ómega). Qual o princípio e qual o fim já depende, efectivamente, do contexto em que eles são usados.

Uma das mais famosas utilizações é, sem dúvida no Apocalipse, ou Livro das Revelações (21:6), quando Jesus se senta no trono e exclama:
«Está feito! Eu sou o Alfa e o Ómega, o principio e o fim.»
Há também uma associação comum do Alfa à Luz e do Ómega às Trevas, mas num contexto cemiterial, as letras gregas são usadas muitas vezes junto das datas de nascimento e morte: Α (alfa) para o início da vida, o nascimento e Ω (ómega) para a morte, representando o fim da vida.

É ainda, relativamente, comum ver as duas letras sobrepostas ou entrelaçadas e em alguns casos é ainda acrescentada a letra Μ (mu), a décima segunda letra do alfabeto grego que, estando a meio deste, é por vezes usada para para representar continuidade: aquilo que está entre o Α (alfa) e Ω (ómega) ou seja, neste nosso contexto, a vida.

2.9.12

Convento de Santa Clara-a-Velha

Em Coimbra, nas margens do Mondego, fica o mosteiro de Santa Clara-a-Velha, fundado no século XIII e abandonado no século XVII, depois de anos de inundações. As águas desse rio invadiram definitivamente o espaço e, durante séculos, submergiram parcialmente o mosteiro até à sua recuperação no final do século XX.
As águas, lamas e lodos que tomaram conta do mosteiro serviram também de um estranho conservante.
Uma visita ao complexo, completamente recuperado e que integra um interessante museu, com objectos encontrados nas escavações e a contextualização desses objectos no dia-a-dia do mosteiro, mostra-nos o uso de coloridos azulejos, o recorte delicado de colunas e, especialmente, pedras decoradas que cobrem os locais de inumação das freiras que o habitavam. 
Mostra-nos ainda alguns dos costumes associados às inumações na idade média.

Sendo religiosas, as mulheres eram enterradas no interior do mosteiro ou em redor do claustro. 
Nas pedras tumulares, não tendo sido pisadas durante trezentos anos, as marcas são ainda visíveis e muito interessantes: cruzes, cordas com nós (imitando as que as freiras usavam à cintura), desenhos geométricos, nomes e datas, etc.
No exterior, no pequeno corredor entre o edifício principal e o claustro estão várias dessas pedras tumulares, muito bem preservadas.
Os locais de inumação variavam conforme a importância do morto, especialmente neste contexto de enterramentos apud ecclesiam.
Quanto mais próximo do altar, mais importante era considerada a pessoa. Por isso é que no interior do edifício principal, junto da porta que dá acesso ao claustro, é que está enterrada uma das mais importantes abadessas do mosteiro.
No decorrer dos trabalhos arqueológicos, foram encontradas cerca de 70 religiosas enterradas na zona do cadeiral e nas naves laterais; estes enterramentos terão ocorrido depois das primeiras cheias, quando o coro passou para a parte superior do edifício.
 Para além destes casos pode ainda encontrar-se um interessante sepulcro num nicho, deixado no piso inferior, que terá estado submerso durante todos estes séculos.

No entanto, as mais ilustres ossadas a repousar no convento de Santa Clara-a-Velha são, sem dúvida, as da Rainha Santa Isabel, esposa do rei D. Dinis, apesar de terem sido levadas para o convento de Santa Clara-a-Nova quando as clarissas abandonaram o local. É ainda possível ver o arco triunfal, em pedra de Ançã ricamente decorada, onde estaria o sepulcro da rainha.
Tendo morrido em Estremoz e sendo seu desejo ser sepultada no mosteiro, em Coimbra, antevia-se o pior durante a demorada viagem naquele Verão especialmente quente.
Quando o ataúde onde viajavam os restos mortais da rainha começou a apresentar rachas e fendas, das quais se vertia um liquido pastoso, foi com surpresa que, ao invés de sentirem o cheiro putrefacto da decomposição de um cadáver, os súbditos que acompanhavam a procissão fúnebre relataram sentir um suave cheiro a flores e plantas.
Durante anos, o sepulcro da rainha ficou no interior da igreja, mas, com as cheias que já referimos, ele também foi transportado para o andar superior. 
Acorriam multidões ao mosteiro para rezar à rainha, que, ainda em vida, foi considerada santa pelo povo. Apesar de ter morrido em 1336, a beatificação e canonização ocorreram em 1515 e 1625, respectivamente.

Com o abandono do mosteiro, as águas do Mondego invadiram o local, que esteve esquecido e semi-submerso até 1995, ano em que começaram os trabalhos de recuperação.

Como nota final, gostaria de deixar uma palavra para todos aqueles que trabalham ou trabalharam neste projecto para resgatar o convento de Santa Clara-a-Velha das águas do Mondego. 
É uma obra fantástica, tendo resultado num complexo muito rico e interessante, cheio de informação. Todos eles estão de parabéns.