2.10.12

Crematório do Alto de São João

O nosso primeiro - e durante muitos anos único - crematório é o forno crematório do cemitério do Alto de São João.
Ainda em utilização, a história deste crematório mistura-se com a história do nosso país e é, mais uma vez, um excelente exemplo de como as práticas funerárias de uma sociedade conseguem ser uma fotografia quase perfeita desta e das crenças e limitações de quem nela vive.

A partir dos anos 70 do século XIX várias vozes se levantaram em defensa da criação de um forno crematório em território nacional.
Os argumentos usados no início do século para fundamentar a criação de cemitérios e descontinuar os enterramentos no interior das igrejas foram então reaproveitados para defender a cremação em detrimento da inumação.

Não deixa de ser curioso que apenas em 1912 é que, finalmente, foi aprovada a construção do crematório no cemitério do Alto de São João.
Considerando que a Igreja Católica é contra a cremação, naturalmente apenas depois da implantação da República, com os ventos ateístas trazidos pelas mãos de Afonso Costa, foi possível ter um crematório em Portugal.

Apesar disso, somente em 1925 o crematório entrou em funcionamento, depois de um vereador adepto da cremação ter procedido à aquisição do forno na Alemanha; apesar disso, segundo as estatísticas, os números de utilização foram muito reduzidos. Entre 25 e 36 foram apenas cremados 22 corpos e em 1936 o crematório deixou de funcionar.
No livro Cemitérios, Jazigos e Sepulturas de Vítor Manuel Lopes Dias é referido apenas que o crematório «não está presentemente [1963] em condições de funcionar.» sem mais explicações.
É de destacar que este trabalho foi publicado quando o Estado Novo ainda fazia censura de livros e textos, pelo que é preciso ter isso em conta quando se considera a falta de informação neste ponto.

É preciso recordar que a Igreja Católica era militantemente contra a cremação e o Estado Novo, nascido em 1933 com a instauração da Constituição de 32, estava completamente alinhado com a Igreja Católica e, por isso, não é de estranhar que o crematório do Alto de São João tenha sido desactivado, até ser recuperado em 1985, em parte por pressão da crescente comunidade Hindu.

 Actualmente, em Lisboa, existem três fornos crematórios, uma vez que ao do Alto de São João se juntaram mais dois no cemitério dos Olivais; para além destes, também existe um no cemitério do Prado do Repouso, no Porto, e outro em Ferreira do Alentejo, de construção particular (ainda que gerido pela câmara municipal).

Em breve uma pequena adenda com informação estatística sobre o fenómeno da cremação.


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