9.12.16

Falecidos Famosos: Florbela Espanca

Ao entrar no cemitério de Vila Viçosa, guardado no interior do castelo, limitado pela muralha ameiada, o primeiro sepulcro que vemos é o da poetiza Florbela Espanca (Α:1894 - Ω:1930).

Nascida a 8 de Dezembro, viria a suicidar-se também a 8 de Dezembro, 36 anos depois.

Pelo caminho, uma vida cheia de tudo, mas principalmente cheia de dores que a marcaram profundamente: casamentos fracassados, crianças que nunca nasceram, a angustia da sociedade mesquinha e amores por cumprir e vários livros que ficam para sempre, como Charneca em Flor.


Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!  
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente! 
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! 
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar... 
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor" 


9.8.16

"Sobre Turismo Cemiterial" na Revista Elegia

No número 4 da revista Elegia (revista semestral da AAFC Associação de Agentes Funerários do Centro) podem ler o meu artigo "Sobre Turismo Cemiterial", no qual desenvolvo esta temática, ilustrando-a com fotografias minhas de vários cemitérios europeus que visitei.
Para além do artigo, podem ainda encontrar várias referências ao blog Mort Safe.



A revista Elegia é uma publicação semestral dedicada ao sector funerário, com uma diversidade de colaborações que permite extravasar o público-alvo inicial e ser do interesse do leitor comum e, especialmente, do leitor tafófilo. 
Os números têm sido subordinados a temáticas específicas, organizadas em dossiers, cobrindo os mais variados temas; até agora foi publicado um dossier sobre Cremação (n.º1), sobre Transportes Funerários (n.º2) e sobre Cerimónia Fúnebre, Crenças e Rituais (n.º3).



18.6.16

Cemitério de Montjuïc

Panteón Augusto Urrutia i Roldán
No passado mês de Maio tive a fantástica oportunidade de passear entre as campas, gavetas e mausoléus (na Catalunha chamam-lhes panteões) dos cemitérios de Montjuïc e Poublenou.
As peças são fantásticas, gigantescas, assombrosas e todo o tempo é sempre pouco para visitar (e fotografar um sitio assim).

Montjuïc tem uma dimensão assustadora, correndo monte acima e estendendo-se verdadeiramente até se perder de vista.
A inumação é praticamente toda feita com recurso a gavetas, em paredes altas, decoradas com pequenas pedras que foram retiradas do próprio espaço agora ocupado pelo cemitério, de tonalidade amarelada. 
As pequenas portas. de metal ou de pedra, decoradas com inscrições e desenhos enchem-se de flores, deixadas pelos familiares com recurso a enormes escadas móveis em metal.
As ruas deste cemitério do século XIX - inaugurado a 17 de Março de 1883 - vão-se estendendo monte acima, começando no sopé quase sobre as águas do porto comercial de Barcelona. Sobre o cemitério, enormes e ameaçadoras gaivotas vão esvoaçando e soltando gritos, agressivas por sentirem que estamos a invadir o seu espaço.
Por entre os ciprestes e as cruzes, conseguimos vislumbrar os contentores metálicos coloridos, acabados de chegar do mar ou prontos para partir, e as enormes gruas que os movimentam. É um contraste muito realista, que sobrepõe a Morte e a Vida numa única imagem, num único instante.

O cemitério de Montjuïc nasceu para ser o Monumento dos Monumentos, numa altura em que era possível sonhar ainda com a riqueza que enchia os cofres de Barcelona. 
Os planos arquitectónicos da época mostram um detalhe e cuidado verdadeiramente grandiosos, mas foi necessário simplificar e atalhar caminho. Os restantes cemitérios não conseguiam dar resposta às necessidade da metrópole e, ao mesmo tempo, a crise financeira impedia a construção inicialmente planeada.
Ainda assim, acreditem, o espaço é de tirar a respiração.
A visita mais interessante é, como sempre em todos estes locais, às zonas mais antigas que, felizmente neste caso, são as mais baixas.
Panteón Buhigas
A perspectiva turístico-cultural do espaço está sempre presente e, para além das brochuras com mapas que são distribuídas gratuitamente na entrada dos cemitérios é também possível adquirir livros informativos muito bons e que permitem perceber a história do local, o contexto social e económico em que foi construído e quem são as pessoas que aí estão enterradas e que construíram os seus monumentos, com grande destaque para a arte em si: quem fez, em que estilo se enquadra, etc.
Existe um percurso artístico recomendado, onde junto de cada peça se pode encontrar uma placa com informação detalhada.

É muito fácil e reconfortante ser tafófilo num cemitério de Barcelona.


PS: com este post não posso deixar de agradecer a Tony Collbató e Juanjo Macias a forma calorosa como me receberam em Barcelona: sem eles, a minha experiência não tinha sido tão rica, tão cheia, tão mágica: Gràcies, amics!
O meu agradecimento também aos Cementiris de Barcelona por toda a disponibilidade e por tratarem tão bem dos seus espaço e dos seus visitantes. Que inveja, que orgulho.

É uma felicidade perceber que a comunidade tafófila não tem fronteiras para os afectos.

Para quem tem facebook, não esquecer de aderir ao grupo Apoyamos la Ruta Europea de Cementerios.