Em quase todas é possível encontrar relatos onde são mencionadas pessoas reais, mas em que, de país para país, se mudam os protagonistas.
A Dama do AnelTalvez a mais famosa e mais variada das quatro, esta lenda urbana consegue ser rastreada até à Alemanha, apesar de aparecerem versões em que ela se passa em Inglaterra, Irlanda, Suécia, etc.
Uma senhora rica, tendo falecido de forma repentina, é levada para a cripta da família, onde é depositada estando trajada com o seu mais belo vestido, embelezada pelas suas criadas, que lhe arranjaram os cabelos e lhe colocaram as jóias favoritas; entre elas, um sumptuoso e ostensivo anel.

As portas fecham-se, a noite cai e um sacristão ganancioso entra de mansinho para roubar as jóias do cadáver. Incapaz de retirar o anel do dedo inchado da senhora, o sacristão puxa de uma faca e tenta cortar o dedo para poder levar o anel.
A dor causada pelo rude golpe é tal que a mulher, não estando efectivamente morta, desperta do torpor profundo em que caíra e, dando um grito, senta-se no caixão.
Com o susto, acreditando que a ressurreição do cadáver é obra divina, o pecador sacristão cai morto no chão.
A mulher, assustada, envolta na sua mortalha faz o caminho de regresso a casa, sem perceber o que lhe aconteceu. Bate à porta e vê-se confrontada pelo marido e restante família que, julgando-a morta, pensa tratar-se de um fantasma, de um truque do demónio e recusa-se a franquear-lhe a porta e ceder-lhe entrada.
Os Jovens AmantesEsta também é uma história que aparece relatada em diversas fontes, sempre apresentando o caso como real, enunciando até as famílias a que pertenciam os jovens amantes.
Impedida de casar por amor, obrigada pelos pais a casar com um nobre rico, mas velho, uma jovem donzela acaba por morrer de desgosto, sendo inumada na capela da família.
Durante a noite, o amante abandonado entra na capela para um último adeus e acaba por encontrar a sua amada ainda viva, acabada de acordar dentro do caixão.
Receosos de serem descobertos e perseguidos pelo noivo indesejado, os jovens amantes partem para outra cidade onde se apresentam com outro nome e podem assim viver em paz.
Alguns dias depois, ao visitar a capela, os pais e o noivo da jovem encontram o caixão aberto e vazio.
O Monge LascivoUma das histórias mais elaboradas diz respeito a um monge necrófilo.
A caminho do convento, um jovem monge toma abrigo numa taberna e é confrontado com o luto profundo do estalajadeiro, que vela a jovem filha morta numa dos aposentos do estabelecimento.
Choroso, o taberneiro pede ao monge que reze pela alma da filha, deixando-o sozinho com o cadáver.
O monge, encantado com a beleza da rapariga, acaba por violar o cadáver, partindo apressadamente na manhã seguinte.
Antes de enterrarem a jovem, o pai percebe que esta ainda respira e pouco depois ela é reanimada. Mais tarde, sem ter conhecimento do que se passou com o monge, a jovem dá conta que espera uma criança.
Meses depois, o monge regressa à estalagem, onde encontra a rapariga viva e com um filho nos braços. Confessando ao estalajadeiro a sua indiscrição durante o velório, o monge acaba por abandonar o hábito e casar com a rapariga.
O Anatomista DescuidadoApesar de inicialmente esta lenda estar associada a um anatomista em especial, o reputado Andreas Vesalius, rapidamente foi difundida, variando o anatomista e a nacionalidade da paciente.
Originalmente, conta-se que Vesalius foi consultado por uma paciente espanhola que lhe disse estar a sentir-se mal, apresentado um estranho quadro de sintomas. Antes que o médico fosse capaz de identificar a maleita e tentar curar a paciente, esta morreu. Intrigado, o anatomista serviu-se da sua reputação para convencer a família a permitir-lhe efectuar uma autópsia.
Rodeando a mesa de dissecação, toda a família foi surpreendida pelo coração batente do cadáver, percebendo assim que esta estava a ser autopsiada viva, e assistindo ainda, impotentes, aos últimos batimentos cardíacos e a grito lancinante que cortou o ar, antes da doente espanhola falecer definitivamente.
Este mito urbano assombrou os anatomistas do século XVIII e XIX que, apesar de preferirem sempre um corpo fresco, não pretendiam dissecar um tão fresco ao ponto de ainda estar vivo.