A origem das capelas de ossos não é tema de polémica. Quase todas as fontes são unânimes em colocar as capelas de ossos como uma evolução natural dos carneiros e ossários.

Com sorte, os corpos tinham tido tempo suficiente para se decomporem na terra saturada e tudo o que restava eram esqueletos encardidos entre a terra negra e fétida. Os ossos eram retirados, limpos e guardados em carneiros, onde a exposição das ossadas fazia parte do ritual de confrontação com o fim da vida, aguardando o Juízo Final, onde seriam reanimados e caminhariam entre os justos.
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Entrada da Capela de Ossos de Évora, Portugal |
Um pouco por todo a Europa foram-se forrando pequenas capelas das igrejas com ossos, criando assim as primeiras capelas de ossos, sendo que algumas são mais simples outras mais elaboradas. Este fenómeno é bastante comum por toda a Europa.
Em Portugal existem actualmente sete capelas de ossos, todas elas localizadas a sul do Tejo. Existe ainda um carneiro nas catacumbas da igreja de S. Francisco, no Porto, que é observável através de uma grade com vidro.
Existem ainda registos escritos de uma oitava capela de ossos em Coimbra, que seria a mais antiga de Portugal, mas que foi destruída nos finais do século XIX para dar lugar a uma nova estrada.
Segundo Carlos Veloso, a moda das capelas de ossos espalhou-se no sentido Norte-Sul, sendo que as mais antigas são as do Alentejo (Évora, Monforte e Campo Maior) e as mais recentes as do Algarve (Alcantarilha, Faro, Lagos e um pequeno nicho em Pechões).
A de Évora é a mais conhecida e a maior, sendo que muita gente pensa até que é a única Capela de Ossos em território nacional.
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Capela dos Ossos de Évora, Portugal |
Segundo a informação disponível, a capela dos ossos de Évora foi construída no século XVI por um monge da ordem de S. Francisco que pretendia recordar os seus irmãos da efemeridade da vida, confrontando-os com as ossadas.
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Topo do altar e vista parcial do tecto da Capela dos Ossos de Alcantarilha, Algarve. |
"NÓS OSSOS QUE AQUI ESTAMOS PELOS VOSSOS ESPERAMOS".
Existe uma diferença curiosa entre as capelas alentejanas e as algarvias e está no uso de linhas geométricas explicitas e acentuadas com cores. Isto pode ser observado no altar da capela de Alcantarilha ou no tecto da capela de Faro.
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Detalhe do tecto da Capela de Ossos de Alcantarilha, Algarve |
É ainda essencial perceber que, no nosso país, a partir do século XVI, o culto das Alminhas do Purgatório - já explorado no contexto do Dia de Finados - levou à criação de pequenos altares, capelas e imagens evocativas um pouco por todo o país.
Existe uma clara relação entre este culto das alminhas e as capelas de ossos, uma vez que ambas têm um objectivo comum: recordar aos vivos a necessidade de rezarem pelas almas dos mortos.
Para quem quiser explorar um pouco mais sobre este tema, recordo uma das recomendações Mort Safe para o Natal de 2011: The Empire of Death de Paul Koudounaris.
Boa noite.
ResponderEliminarem primeiro lugar, obrigado por ter reunido esta informação sobre as capelas dos ossos em Portugal.
No texto, refere que existia uma oitava capela em Coimbra, mas que desapareceu. A título de curiosidade, onde posso encontrar essa informação?
Com os melhores cumprimentos
Pedro Silva