Como tem sido referido neste blog, a sociedade do século XIX tinha uma abordagem diferente relativamente à Morte.
As mortes aconteciam - normalmente - em casa e era de casa que saía o funeral. Os cangalheiros ajudavam os parentes do morto a conceber uma cerimónia de acordo com o estatuto social do falecido, sendo que algumas famílias acabavam ruinosamente endividadas.
O período de luto era longo e as regras e exigências da sociedade eram rigorosas. O luto tinha de ser respeitado em todas as coisas, o que permitiu uma linha de negócio bastante proveitosa e especializada em artigos dedicados ao luto.
Os Mourning Warehouses vendiam tudo aquilo que seria necessário a uma família enlutada: material de escritório para fins particulares (papel, cartões, envelopes, tinta, lacre e até canetas) e para fins comerciais (facturas, recibos, talões de encomenda), vestidos, braçadeiras, joalharia e acessórios de luto.
Também aqui o papel das mulheres era bem diferente do dos homens - e bem mais rígido. Nada podia ser usado por uma mulher enlutada que não fosse rigorosamente de luto: das luvas aos leques, passando pelos chapéus, pelos lenços, pelas bolsinhas, pelos vestidos e claro, pela joalharia.
Na raiz das roupas e adereços de luto criados no século XIX estava o pavor do regresso das almas dos mortos ao mundo dos vivos: ainda se estava numa altura em que o espiritismo vicejava e era considerado uma realidade.
Acreditava-se que os trajes de luto serviam para tornar os vivos invisíveis aos olhos dos mortos, nomeadamente quando estes estavam envoltos em capas e véus negros, e as inumações decorriam à noite.
O facto do preto ser uma cor associada com a noite e vista como a ausência da cor era a que mais se adequava à representação do luto.
A pressão da sociedade em torno das famílias enlutadas era tal, que qualquer alteração das regras significava, no mínimo, desrespeito pelo falecido. Noivas chegaram a casar de preto, por não lhes ser permitido levantar o luto por nenhum motivo.
Numa época em que não existiam muitas formas de guardar recordações dos entes queridos que faleciam, a sociedade vitoriana desenvolveu duas técnicas: a fotografia post mortem e a joalharia com cabelos.
A joalharia com cabelos era normalmente feita com recurso a madeixas dos falecidos, que eram entrançadas ou tecidas como se fossem fio de linho ou algodão, permitindo criar padrões que eram integrados em pregadeiras, anéis, pulseiras, travessões de prata ou ouro.
Mais simples eram as madeixas de cabelo simples, enroladas e fechadas em medalhões.
O esmalte preto - ou branco, quando o morto era uma criança - era uma das matérias primas mais utilizadas na joalharia de luto, assim como as pérolas arroz, cujo formato e tamanho permitia imolar lágrimas ou seja, eram utilizadas para simbolizava o pesar da perda do familiar.
As opalas, que os vitorianos acreditavam trazer má sorte, eram também utilizadas neste contexto, à semelhante das pérolas, para simbolizar dor.
Era comum ter símbolos de Morte, pintados em marfim ou esmalte, encastrados em anéis ou medalhões para usar ao peito. Urnas funerárias envoltas em mortalhas, salgueiros, tochas invertidas e pedras tumulares eram os símbolos mais comuns.
Por vezes também era possível mandar pintar uma silhueta ou retrato do falecido.
Em Whitby desenvolveu-se uma industria baseada na concepção de joalharia em âmbar-negro e prata que ficou famosa por toda a Inglaterra e as peças era muito procuradas como jóias de luto.
Findo o período de luto, que dependia da relação com o falecido, as jóias eram guardadas como recordações.
Estas peças são hoje alvo de colecção por muitos interessados.
Para quem quiser saber mais sobre este assunto, recomendo o site Art of Mourning.
Podem ainda consultar a Galeria de Imagens da Página de Facebook do Mort Safe, onde vão encontrar mais imagens de jóias de luto.
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