No ano de 2007 foi publicado um interessante livro chamado An Incomplete History of the Art of Funerary Violin, que causou sensação sob diversos aspectos.
O autor - e músico - Rohan Kriwaczek diz na introdução que ao sair da Royal Academy of Music, nos anos setenta do século passado, percebeu que única forma de distinguir-se como executante de violino clássico era encontrar um nicho e especializar-se nele.
Considerando o seu gosto pessoal, decidiu especializar-se em música melancólica e começou a percorrer a Inglaterra com um espectáculo musical que denominou de "a música mais triste do mundo".
No final de um desses espectáculos foi abordado por um académico que se apresentou como membro da quase extinta Guilda dos Violinistas Funerários, convidando-o a assistir a uma das suas reuniões.
Rohan Kriwaczek conta-nos o seu entusiasmo ao descobrir que o grupo de homens de idade avançada que compunha a guilda, nessa altura, mantinha um espólio de pautas, velhas gravações em cilindros de cera, fotografias e documentos históricos provando a existência de um género de música quase esquecido: o violino funerário.
O autor revela ainda que, depois de obtida permissão, ficou recolhido na cave-arquivo da guilda, procurando, organizando, recuperando e tratando esses documentos e gravações.
Foi assim que Rohan Kriwaczek ficou a conhecer a história da Guilda e da Arte do Violino Funerário, um género de musica misto de erudita e popular normalmente tocada por um violinista em funerais (ou dois, em casos especiais).
Criada na época da Reforma Protestante da rainha Elizabeth, e praticamente extinta durante a Primeira Guerra Mundial, o Violino Funerário teve de passar por longas fases de clandestinidade, nomeadamente durante as chamadas purgas funerárias levadas a cabo pelo Vaticano, que considerava que este tipo de música era do Diabo.
Apesar disso, a música influenciou grandemente compositores afamados como Chopin e Mozart, estando na génese dos requiens e marchas fúnebres que muitos compositores criaram ao longo dos anos.
O livro é uma obra riquíssima, ilustrada com fotografias de época, e tem como anexo a cópia das pautas de algumas das músicas.
É ainda possível comprar os CD's contendo as performances gravadas nos cilindros de cera encontrados nas caves da casa da guilda ou versões recentes gravadas por Rohan Kriwaczek que, entretanto, também compôs alguns trabalhos, seguindo o espírito do trabalho dos seus antecessores, os violinistas funerários que foram passando pela guilda.
Talvez um dos pontos mais interessantes de toda esta história é o facto dela ser falsa.
Rohan Kriwaczek criou a Guilda, a sua história, a sua filosofia, a música, as imagens, tudo. E sim, a guilda nunca existiu antes, mas existe agora.
A historia da guilda é falsa... mas está tão bem construida que podia não ser!
E a música é real!
E bonita...
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