6.2.11

Igreja de S. Francisco, Porto

Durante um largo período da nossa história, que só terminou em meados do século XIX, as inumações - enterros - eram realizadas no interior das igrejas ou nos seus adros, sendo que a proximidade com os locais mais sagrados, como o altar principal ou as capelas contendo relíquias de santos, eram apenas para os mais ricos, uma vez que eram os mais caros.
Também apenas os ricos tinham direito lajes gravadas, identificando o morto, sendo que os mais pobres eram inumados em valas comuns.

Os cemitérios públicos aparecem, maioritariamente, nos anos 30 do século XIX, mas a resistência do povo à sua utilização foi de tal forma fervorosa que levou mesmo a uma revolta popular seguida de uns meses de guerra civil: a revolução da Maria da Fonte, que teve inicio no Minho.

A cidade do Porto tinha diversos cemitério privados, muitos deles propriedade de ordens religiosas que se recusavam a fechar os cemitérios e a passar a enterrar os seus mortos nos novos cemitério públicos, que se pretendiam com um carácter laico ou, pelo menos, ecuménico.

Epidemias de cholera morbus e o cerco da cidade do Porto, levado a cabo pelas tropas Miguelistas, levam à criação dos cemitérios do Prado do Repouso e Agramonte e à obrigatoriedade da sua utilização.

As catacumbas da Igreja de S. Francisco da Ordem Terceira, no Porto, são das únicas que podem ser visitadas em Portugal e onde ainda se podem ver gavetões datados de meados do século XIX.
Estas catacumbas podem ser visitadas, mediante a compra de um bilhete, que dá acesso a todo o museu e ao interior da magnifica igreja, com belíssimos altares cobertos de talha dourada e, claro, às catacumbas.
Consta que o interior da igreja está forrado com cerca de 600 quilos de ouro.

O chão das catacumbas é composto de grandes rectângulos de madeira gasta e acinzentada que baloiçam sob os nossos pés e ressoam a vazio: por baixo deles estão enterrados os irmão da confraria. Não existe sequer identificação relativa aos restos que aí repousam: apenas números.

As paredes das criptas centrais estão forradas com gavetões onde as urnas eram arrumadas de lado, uma vez que os corredores e as criptas são estreitos e por isso, ainda que de outra forma (à semelhança dos gavetões existentes nos cemitérios actuais) permitisse um maior número de inumações por parede, seria impossível manobrar as urnas.

Os gavetões são todos iguais (ver imagem acima) numerados, e com os nomes e datas dos falecidos gravadas no exterior. É ainda possível encontrar alguns vazios, uma vez que por volta de 1855 a Ordem Terceira de S. Francisco adquiriu terreno no recém criado Cemitério de Agramonte, tendo aí estabelecido um cemitério privado, no interior do recinto do cemitério municipal, contornando assim a lei que encerrou os cemitérios privados existentes no Porto e proibiu a criação de novos.

Num das últimas criptas, pode ainda ver-se no chão uma velha grade, coberta agora de vidro, que é um dos pontos altos da visita.
A grade permite observar pilhas de ossos amontoados desordenadamente no centro de uma câmara.
Partidos, esmagados, conseguem distinguir-se crânios dos mais variados tamanhos, pertencentes aos irmãos da Ordem Terceira que pretendiam aguardar a ressurreição no dia do Juízo Final em terreno sagrado, sob o tecto protector de uma igreja.

Este é mais um local que merece ser visitado.

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