8.2.11

Simbologia: Cão

A presença de animais na decoração das campas tem significados diferentes de acordo com o animal que a adorna.
No caso específico do cão, normalmente, está associado a um animal real, provavelmente o predilecto do falecido, que o acompanhava em vida.
Algumas culturas enterravam os pertences do morto com o cadáver e, muitas vezes, isso incluía os seus cães.
A associação dos cães à arte funerária e à vida depois da morte também não deve ser descurada; basta pensar em Cérbero, o gigantesco cão tricéfalo que guardava os portões do mundo inferior.
Na mitologia egípcia o cinocéfalo Anúbis era o deus dos mortos.

Como acontece com quase todos os símbolos, o cão pode ter um significado luminoso ou tenebroso, de acordo com o contexto.
De um ponto de vista luminoso, podemos dizer que os cães são considerados um símbolo de fidelidade, lealdade, vigília e vigilância.
Durante a idade média, a representação de cães na arte funerária representa normalmente a fidelidade, seja matrimonial ou feudal, Por exemplo, no sarcófago de D. Pedro I - na Igreja do Mosteiro de Alcobaça - estavam talhados três cães, com o objectivo claro de representar fidelidade.

Interessante é, também, a associação da imagem do cão à Igreja.
Os frades dominicanos eram, muitas vezes, designados como os "Cães de Deus". Apesar desta expressão poder parecer depreciativa, estava associada à lenda do nascimento de Domingos de Gusmão: conta-se que a mãe des, enquanto grávida, teve um sonho em que dava à luz um cão que segurava um archote alumiado entre os dentes. A imagem foi tão real que quando Domingos de Gusmão criou a sua ordem esta passou a fazer parte do brasão.
Até etimologicamente se pode traçar a origem da expressão, de origem latina: domini (do Senhor) e canos (canis) cão.

No entanto, como já referi anteriormente, os símbolos têm normalmente duas interpretações e, de um ponto de vista menos iluminado, podemos considerar a representação do cão de outra forma. Cães negros, tal como os gatos, são muitas vezes representados numa associação a bruxas e feiticeiros, recordando os cães enviados pelo Demónio para caçar almas humanas.

Termino com uma nota: como noutras áreas, o contexto - histórico, social, artístico - é essencial para a interpretação de determinado elemento decorativo.

Imagem: Cemitério dos Prazeres, Lisboa, Portugal @Gisela Monteiro.2009

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