23.2.11

Funeral Fantasma de Lyme Park

There, in the middle of the broad bright high-road — there, as if it had that moment sprung out of the earth or dropped from the heaven — stood the figure of a solitary Woman, dressed from head to foot in white garments, her face bent in grave inquiry on mine, her hand pointing to the dark cloud over London, as I faced her. (...)
It was then nearly one o'clock. All I could discern distinctly by the moonlight was a colourless, youthful face, meagre and sharp to look at about the cheeks and chin; large, grave, wistfully attentive eyes; nervous, uncertain lips; and light hair of a pale, brownish-yellow hue. There was nothing wild, nothing immodest in her manner: it was quiet and self-controlled, a little melancholy and a little touched by suspicion; not exactly the manner of a lady, and, at the same time, not the manner of a woman in the humblest rank of life.
Wilkie Collins, The Woman in White

É quase impossível falar de cemitérios, sepulturas e funerais sem nos cruzarmos com um ou outro fantasma.

Existe até uma categoria de histórias do "outro mundo" que acontecem em cemitérios, estão associadas a enterramentos ilegais e ocultação de cadáveres ou não são mais do que cortejos fúnebres espectrais.
E é esta categoria de histórias de fantasmas que tem algum interesse para os tafofilos, até porque muitos dos relatos fantasmagóricos estão relacionados com pessoas reais e as suas escolhas e limitações em vida e, desse modo, acabam por ser extremamente interessantes.

No condado de Cheshire, em Inglaterra, existe uma enorme e magnífica propriedade conhecida como Lyme Park.
Utilizada diversas vezes em filmes e séries de televisão (por exemplo, na produção da BBC de 1995 de Pride and Prejudice, Lyme Park é Pemberley, a residência de Mr. Darcy) a enorme mansão, cercada por belíssimos jardins e um parque para veados, foi construida no final do século XVI, tendo sofrido modificações substanciais durante o século XVIII.

A propriedade foi doada a Sir Thomas Danyers, em 1346, tendo ficado na posse de sua família até 1946, altura em que passou a pertencer ao National Trust, que, recentemente, a classificou em sexto lugar, na lista das propriedades históricas mais assombradas.

Durante parte do século XV, a propriedade de Lyme Park esteve na posse de Sir Piers Legh II.
Em 1415, na batalha de Agincourt, Sir Piers foi gravemente ferido, mas poupado da morte pelo seu extraordinário mastim, que se colocou sobre o corpo do dono e o protegeu durante horas, até este ser encontrado pelos companheiros de batalha. Em 1422, Sir Piers voltou a ser ferido, desta vez na batalha de Meux, e acabou por sucumbir na sequência desses ferimentos, em Paris.

O corpo foi enviado para Inglaterra, para ser entregue à esposa na residência de Lyme Park. Mas mais que a sua esposa, era Blanche, uma jovem e bonita camponesa, quem aguardava ansiosamente pelo regresso do cavaleiro. A morte do amante destroçou o coração da pobre rapariga, que foi impedida de comparecer aos rituais fúnebres levados a cabo pela família de Sir Piers.

Durante uma noite escura um enorme cortejo fúnebre medieval, negro e silencioso, cruzou a entrada principal de Lyme Park, envolto no rugido de uma tempestade. Atrás, afastada o suficiente para não ser notada ou repreendida, uma figura esguia, ensopada pela chuva que a vergastava, seguia o desfile em silêncio envergando um longo vestido branco: era Blanche.

Pouco tempo depois Blanche morreu de desgosto, tendo o seu corpo sido encontrado num prado, num local que é agora conhecido como Lady´s Grave.

Em 1442, depois de completa a construção da capela da família Legh na igreja de St Michael, o corpo de Sir Piers foi para lá transladado.

Mas o fantasma de Blanche não teve descanso.

Em noites de tempestade vários visitantes têm, ao longo dos anos, observado um cortejo fúnebre entrando o portão de Lyme Park e dirigindo-se à mansão; a fechar o cortejo, está sempre a figura etérea e silenciosamente chorosa de uma mulher vestida de branco.
Outros têm encontrado a mulher vestida de branco sozinha, vagueando pelo parque, ou sob uma das enormes árvores na frente da casa.
Diz-se que o desgosto por não ter conseguido despedir-se do amante, Sir Piers Legh II, é responsável pela assombração.

Quem sabe se não foi a lenda do fantasma de Lyme Park que inspirou Wilkie Collins para descrever a primeira aparição da inesquecível Anne Catherick n' A Mulher de Branco?

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