19.2.11

Simbologia: Uroboro

Um elemento recorrente da ilustração funerária é a figura de uma serpente mordendo a própria cauda, formando um círculo ou uma elipse, normalmente designado por uroboro. Pode também ser representado como sendo duas serpentes que mordem a cauda uma da outra.
Costuma aparecer associado a outros símbolos funerários, como flores (frequentemente alcachofras) ou caveiras e tíbias cruzadas; apesar de ser mais invulgar, também é possível encontrar uroboros isolados.

Sendo um símbolo bastante antigo - podemos encontrar referências no Egipto e na Grécia antigos, onde foi baptizado com o nome que significa "devorador de cauda" - e bastante difundido: foram encontradas ilustrações de uroboros em ruínas aztecas, referencias na mitologia nórdica e na China, acompanhando o mais conhecido yin e yang - é curioso que em quase todas as culturas tem, mais ou menos, os mesmos significado: ciclicidade, imortalidade, eternidade, renovação.

É preciso também referir que este é um símbolo utilizado pelos alquimistas. De uma forma simplista, podemos dizer que estes utilizavam-nos como sigilo para representar um processo em si concluído, que se repete continuamente, e que serve para o refinamento de substâncias pela alternância dos estados de aquecimento, evaporação, resfriamento e condensação.

Outra perspectiva importante é perceber que a Igreja Católica, à semelhança do que fez com diversos símbolos e festividades pagãs, adoptou o uroboro, alterando o seu significado: o uroboro passa a ser utilizado para representar os limites do mundo material, o externo - no exterior - face ao interno - no interior.

Considerando todas estas referencias, podemos dizer que este é um símbolo de ciclo e eternidade, da criação nascida a partir da destruição, da Vida gerada na Morte e mito do Eterno Retorno. Transmite a ideia da renovação, auto-sustentação e da vida eterna.

A verdade é que os símbolos têm diferentes significados consoante o seu contexto.
Assim, num contexto funerário, este é claramente um símbolo de vida eterna, um desejo de renovação e esperança num novo começo.
Talvez seja por isso que foi tão comum na arte funerária do século XIX, apesar de ter caído em desuso mais tarde.


Imagens: Cemitério dos Prazeres e Cemitério do Alto de São João, Lisboa, Portugal @Gisela Monteiro.2009

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